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Com o Outono e a aproximação do Inverno observa-se uma diminuição do tempo de luz e um aumento proporcional da noite. Esta variação ocorre de forma significativa apenas para latitudes superiores aos trópicos (Câncer e Capricórnio). Em latitudes inferiores e, portanto, mais próximo do Equador, o tempo de luz/noite não sofre grandes variações ao longo do ano. Ao invés, quanto maior a latitude, maior a variação do tempo de luz/noite ao longo do ano.
E é esta variação que produz um impacto em várias funções biológicas que de alguma forma são reguladas pela luz. Uma das mais evidentes é a influência sobre o humor que, particularmente em algumas pessoas suscetíveis, assume uma tonalidade mais depressiva. Em algumas situações, as alterações do humor tornam-se mais evidentes e
têm um impacto marcado na forma como a pessoa se sente e no seu funcionamento. É nestes casos que se poderá denominar de Perturbação Afectiva Sazonal. Esta perturbação ocorre em cerca de 1,5% da população em estudos realizados em populações que vivem numa latitude ligeiramente inferior (Sul dos EUA) à de Portugal e 9% em latitudes algo superiores (Norte dos EUA).
Será importante tratar este problema ou, tendo em conta que se trata de uma alteração sazonal, simplesmente aguardar que o estado de humor regresse à normalidade? A melhor resposta depende acima de tudo de cada caso em concreto, podendo revelar-se mais importante intervir ou não intervir.
É no entanto importante levar em conta algumas considerações:
- A intensidade e a duração dos episódios;
- A previsibilidade dos mesmos, ou seja, se ocorrem por exemplo todos os anos ou apenas irregularmente;
- O impacto funcional ao nível pessoal, familiar e profissional;
- 2/3 das pessoas têm estes episódios recorrentemente todos os anos;
- A PAS desaparece completamente em cerca de 1/6 dos casos;
- E, muito importante, mais de 1/3 desenvolve uma forma de depressão não-sazonal em episódios posteriores.
Em termos psicopatológicos, esta forma de "depressão" apresenta normalmente as denominadas características atípicas, com hipersonolência, aumento do apetite, em particular associado a desejo por alimentos de elevado conteúdo calórico.
Caracteristicamente associa-se também uma sensibilidade emocional marcada com dificuldade em conter emoções e choro fácil e observam-se alterações mais subtis da personalidade, com maior pessimismo e aversão ao risco.
Nuno Rodrigues Silva
Médico Psiquiatra